campanha de vacinação contra a gripe começou nesta segunda-feira (23) em todo o país para pessoas com maior chance de reações graves à doença (veja abaixo). Em idosos, por exemplo, a gripe é uma condição potencialmente séria que pode levar à insuficiência respiratória. Diferentemente do resfriado, a condição deflagrada pelo influenza tem febre alta e sintomas bem mais intensos.
Nas gestantes, para quem a vacina também está disponível gratuitamente, a vacina também protege contra reações graves deflagradas pelo influenza.
Quem toma a vacina, está protegido contra os tipos de influenza mais comuns que estão circulando naquele território — e não contra qualquer forma de gripe ou condição respiratória. As linhagens e tipos de vírus são definidos anualmente pela Organização Mundial de Saúde; no hemisfério Sul, os micro-organismos que devem constar no imunizante são disponibilizados em setembro do ano anterior às campanhas.
Entenda o que é o vírus sincicial respiratório (VSR)Bem Estar00:00/03:27
Assim que a Organização Mundial de Saúde divulga os tipos de vírus, laboratórios começam a fabricar a vacina. O Instituto Butantan em São Paulo, por exemplo, que fornece a vacina para o Ministério da Saúde, começou a fabricar a vacina ainda em setembro de 2017.
O imunizante contra o influenza está disponível gratuitamente para alguns grupos na rede pública, mas ela pode ser tomada por todos que quiserem evitar a doença. Na rede privada, a vacina está sendo oferecida a um preço médio de R$ 130. A dose deve ser renovada anualmente.
Abaixo, tire dúvidas sobre a disponibilidade do imunizante:
– Quem deve tomar a vacina?
Não há quase contraindicação para a vacina. Quem não tem alergia aos componentes do imunizante, pode se vacinar. Pessoas que fizeram transplante, pessoas com pressão alta, pessoas com diabetes e outras condições, devem e podem tomar o imunizante. Aqueles que passaram por cirurgia recente ou tomaram uma outra vacina, também podem se vacinar normalmente.
A infectologista e professora da Faculdade de Medicina da USP Marta Heloísa Lopes explica que, exceto uma alergia específica ao imunizante, ele pode ser administrado para todas as pessoas em todas as idades.
“Todas as pessoas que não desenvolveram alergia à uma dose anterior da vacina, devem e podem tomar o imunizante”, diz a especialista.
– Quem não pode tomar a vacina?
Como dito anteriormente, pessoas com alergia grave à vacina devem evitar o imunizante. Um fato importante é que, atualmente, a vacina da gripe não é mais contraindicada para quem tem alergia a ovo.
“Quem tem alergia grave a ovo, pode tomar a vacina desde que esteja em um centro com a disponibilidade de atendimento em caso de reação”, diz a infectologista.
A infectologista indica que aqueles com alergia a ovo devem procurar um centro de referência em imunização. “Importante lembrar que a questão aqui é a alergia grave. Quem come pão, bolo, etc… não tem alergia grave”, lembra.
– Contra quais vírus a vacina protege?
A vacina trivalente protege contra três tipos de vírus (H1N1, H3N2 e influenza B). Já a vacina tetravalente, protege contra todos os tipos da vacina tri e mais um tipo de influenza B. A vacina disponível na rede pública é a trivalente.
– A vacina tem reações? Posso ficar doente?
O vírus não causa reações porque está morto. A maioria das reações será consequência de processos deflagrados pelo próprio sistema imunológico. A reação mais frequente é a dor na região em que a vacina foi aplicada.
Em alguns casos, há a possibilidade de um pouquinho de febre e um mal-estar geral — também por reações ao sistema imune.
Já em situações raras, é possível que ocorra reações alérgicas, como a vermelhidão na pele, lábios inchados e a língua mais grossa. “Uma reação alérgica pode ocorrer com qualquer medicamento. Tem gente que tomou dipirona a vida inteira, e um dia tem reação alérgica” pontua a infectologista da FMUSP.
– A vacina está disponível gratuitamente para todos?
Não. Na rede pública, a vacina está disponível somente para pessoas em situação de maior vulnerabilidade. São elas:
- Crianças de 6 meses a 5 anos de idade;
- Gestantes; puérperas, isto é, mães que deram à luz há menos de 45 dias;
- Idosos;
- Profissionais de saúde, professores da rede pública ou privada, portadores de doenças crônicas, povos indígenas e pessoas privadas de liberdade.
- Portadores de doenças crônicas (HIV, por exemplo) que fazem acompanhamento pelo SUS também têm direito á vacinação gratuita; aqueles que não têm cadastro, devem apresentar prescrição médica para acesso ao imunizante.
– Qual a duração da campanha na rede pública? Quantas doses estão disponíveis?
O Ministério da Saúde adquiriu 60 milhões de doses para a campanha de vacinação contra a gripe deste ano. A campanha começa nesta segunda-feira (23) e vai até o dia 1º de junho.
A pasta organizará uma mobilização em um sábado (12 de maio). Chamado de “Dia D”, 65 mil postos de vacinação estarão abertos. Também serão disponibilizados 27 mil veículos terrestres, marítmos e fluviais.
– Qual o preço da vacina em laboratórios particulares?
Em laboratórios do Grupo Dasa, que administra redes no Brasil inteiro, as vacinas tri e tetravalente (que protegem contra três tipos de vírus ou quatro) estão sendo oferecidas a um preço que varia entre 90 e 160 reais. Em algumas farmácias em São Paulo, a vacina trivalente é oferecida a um preço médio de R$ 130.
– Posso pegar gripe após tomar a vacina?
Não. A vacina da gripe é feito com vírus morto, inativado. Ou seja, não há a possibilidade dele atacar o organismo. O que normalmente acontece é que, como a vacina da gripe é aplicada durante o outono e inverno — período de maior circulação do vírus causador — é também comum que outros tipos de vírus, que não os que constam na vacina, causem a doença.
Com isso, tem-se a impressão de que foi o imunizante que levou aos sintomas, mas na verdade foi outro tipo de infecção.
Um outro ponto é que a vacina contra a gripe, além se ser produzida por um vírus inativado, é dividida em subunidades.
“Isso quer dizer que a vacina nem o vírus inteiro tem. São pequenas partículas do vírus que estão lá”, explica Marta Heloísa.
– Quantas doses devo tomar?
Como os vírus do influenza mudam muito, é preciso renovar a a vacina anualmente.
“Os vírus da gripe sofrem pequenas mutações em sua superfície; por isso, a necesssidade de tomar novamente porque a composição da vacina muda conforme os novos vírus que vão surgindo”, explica a infectologista.
– Gripe e resfriado é a mesma coisa? A vacina da gripe protege contra o resfriado?
A gripe é uma doença causada por um vírus específico: o influenza. Já o resfriado é também causada por vírus, mas de outros tipos, como os rinovírus.
Uma diferenciação importante entre as duas condições é que na gripe há a febre alta e no resfriado os sintomas são mais brandos e a febre é menos comum e, quando ocorre, é bem mais leve.
– Além da vacina, quais outros cuidados posso tomar para evitar a doença?
Lavar as mãos, utilizar lenço descartável para limpar o nariz, não compartilhar objetos de uso pessoal — como talheres, pratos, copos ou garrafas são alguns cuidados importantes.
Ambientes bem ventilados, evitar contato próximo com pessoas que apresentem os sintomas e cobrir o nariz ao tossir e espirrar. Especialistas indicam usar a área entre o braço e o antebraço para que os vírus não fiquem na mão.
– Entenda os vírus causadores da gripe e as suas mutações
O pediatra e infectologista Renato Kfouri explica que o vírus influenza é dividido em tipos, subtipos e linhagens. Todas essas variações correspondem a diferenças encontradas no material genético do vírus.
Primeiro, em relação ao tipo, o influenza é dividido em A, B e C. O vírus A e B são os que infectam seres humanos; já o tipo C, não é incluído em vacinas e não tem relevância para a saúde pública até o momento.
Já as formas H3N2, H1N1, dentre outras, referem-se aos subtipos do influenza A. As letras H e N referem-se a proteínas encontradas na superfície do vírus; respectivamente, hemaglutinina e neuraminidase.
Os números, por sua vez, são referentes a maneira como essa proteína é apresentada. Elas podem ter uma haste mais longa ou mais curta, por exemplo.
Já o influenza B é dividido em duas linhagens que passaram a circular simultaneamente nos últimos anos.
Fontes: Ministério da Saúde, Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC), Grupo Dasa, a infectologista Marta Heloísa Lopes, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e Renato Kfouri, pediatra, infectologista e vice-presidente da SBIm. Bem Estar